Stefania Chiarelli
Às vezes mais vale escrever enquanto a gente está sob o impacto recente de uma leitura, ainda no clima e na atmosfera de um livro, do que esperar aquela sensação decantar. Porque ela aos poucos se esvai, não tem jeito. Já me aconteceu de terminar um livro desamparada quando virei a última página. Solução: emendar em outro do mesmo autor. Encerrei Os Maias e tive correndo de ler O primo Basílio para não padecer de certa síndrome de abstinência de Eça de Queiroz. Foi bom. Recomendo.
Daí a vontade de registrar logo minhas impressões sobre Na praia, de Ian McEwan, antes que elas se percam na próxima esquina. Primeiro, porque deu vontade de me jogar logo em outro livro dele, o mesmo que ocorre – geralmente – quando leio Philip Roth e Paul Auster, só pra ficar em autores contemporâneos de língua inglesa. A restrição fica por conta de Viagens ao scriptorum, deste último, que não me arrebatou como os outros, a despeito dos imensos elogios que eu havia lido sobre o livro.
Na praia me trouxe essa sensação de arrebatamento. Florence e Edward, os jovens protagonistas, têm alma e encanto. Seus revezes e angústias são humanos e ao mesmo tempo muito particulares, ligados ao contexto em que se desenrola a ação. Muito já se disse a respeito da década de 60 em que se passa a história, da repressão sexual e do tabu em relação ao tema do sexo, e de personagens que se vêem incapacitados de extrapolar essas amarras tão sólidas em plena lua de mel. Após namoro de um ano, Florence e Edward, jovens e virgens, se casam e partem para um hotel na praia de Chesil, Inglaterra. Ele, estudante de História e cheio de planos para o futuro e ela, violinista talentosa, estão apaixonados. Mas não foram felizes para sempre. Enquanto a fábula tradicional se interrompe aí, a narrativa de McEwan elege esse momento como ponto de partida: como iniciar uma vida sexual com tamanha expectativa?
Às vezes mais vale escrever enquanto a gente está sob o impacto recente de uma leitura, ainda no clima e na atmosfera de um livro, do que esperar aquela sensação decantar. Porque ela aos poucos se esvai, não tem jeito. Já me aconteceu de terminar um livro desamparada quando virei a última página. Solução: emendar em outro do mesmo autor. Encerrei Os Maias e tive correndo de ler O primo Basílio para não padecer de certa síndrome de abstinência de Eça de Queiroz. Foi bom. Recomendo.
Daí a vontade de registrar logo minhas impressões sobre Na praia, de Ian McEwan, antes que elas se percam na próxima esquina. Primeiro, porque deu vontade de me jogar logo em outro livro dele, o mesmo que ocorre – geralmente – quando leio Philip Roth e Paul Auster, só pra ficar em autores contemporâneos de língua inglesa. A restrição fica por conta de Viagens ao scriptorum, deste último, que não me arrebatou como os outros, a despeito dos imensos elogios que eu havia lido sobre o livro.
Na praia me trouxe essa sensação de arrebatamento. Florence e Edward, os jovens protagonistas, têm alma e encanto. Seus revezes e angústias são humanos e ao mesmo tempo muito particulares, ligados ao contexto em que se desenrola a ação. Muito já se disse a respeito da década de 60 em que se passa a história, da repressão sexual e do tabu em relação ao tema do sexo, e de personagens que se vêem incapacitados de extrapolar essas amarras tão sólidas em plena lua de mel. Após namoro de um ano, Florence e Edward, jovens e virgens, se casam e partem para um hotel na praia de Chesil, Inglaterra. Ele, estudante de História e cheio de planos para o futuro e ela, violinista talentosa, estão apaixonados. Mas não foram felizes para sempre. Enquanto a fábula tradicional se interrompe aí, a narrativa de McEwan elege esse momento como ponto de partida: como iniciar uma vida sexual com tamanha expectativa?
Sexo e desejo são o motor de toda a trama, e a sofisticação de McEwan está em externar esses estados de euforia e inibição dos personagens de modo extremamente sensível. "O sexo e a guerra são territórios já muito explorados, e é preciso encontrar algum canto em que a grama não esteja tão pisoteada", disse em entrevista o escritor. A metáfora da grama não poderia ser mais inglesa, e de fato McEwan encontra esse espaço singular em sua prosa, tratando seus personagens com delicadeza, sondando em que medida “a época os retinha” (p. 19).
Edward tem de discutir a relação na praia do hotel escolhido para a viagem dos recém-casados. O cenário é metáfora para o fracasso do romance entre os dois, paralisados pela angústia de Florence de finalmente ir para a cama com o marido. Com travo amargo o livro se encerra. Acompanhamos o destino dos personagens nas décadas seguintes e, em poucas linhas, percebemos que o bonde da história andou, os costumes afrouxaram, e prevaleceu nessa história a frustração e o fracasso. Mobilizados pelo trauma da única noite de casados, os protagonistas seguem suas vidas, mas, ao olhar para trás, o agora sessentão Edward conclui a inutilidade da pressa e da cobrança. Não há reparação – outro título do mesmo autor - apenas a constatação da perda da inocência.
3 comentários:
Stefania, que texto bonito!
Esse arrebatamento é a prove dos nove da leitura, não é? Beijos!
Tefa,
mais uma vez seu texto perfeito e apaixonante me incita a "navegar" nas linhas de um novo autor!! Não vejo a hora de poder ler mais este livro, com certeza será meu companheiro na viagem da semana que vem!! Parabéns pelo Blog! Abraço. Jonia.
Parabéns pelo post!
Li "Na Praia" e "Reparação" e me encantei com o estilo de Ian McEwan. Lendo uma entrevista dele à revista Época, vi que ele citou um autor que você também citou em seu post: Philip Roth. Poderia me indicar um livro dele?
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