quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Que país é esse ou como ficar deprimida com números e livros

Giovanna Dealtry

A página de opinião do Globo desta semana disponibiliza um artigo interessantíssimo, e também muito deprimente, sobre a situação atual dos livreiros do país. O autor, Vitor Tavares, Presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), disponibiliza alguns dados sobre o "Diagnóstico do Setor Livreiro do País" (o nome é meio esquisito, mas é assim mesmo). Pelo tal diagnóstico ficamos sabendo (cara de horror) que em todo território nacional existem apenas 2.600 livrarias, destas 53% estão localizadas na região sudeste (eu já sabia!) e apenas 4% no Centro-Oeste. Para termos uma idéia sobre o que significam esses números, a ONU, ainda segundo Vitor Tavares, recomenda haja uma livraria para cada 10 mil habitantes, eu ainda acho pouco, mas continuando...Ou seja, fazendo as continhas teríamos que ter umas 17 mil livrarias! Para Tavares, 4.900 já tava de bom tamanho. Mais um número antes do lexotan: brasileiro lê hoje menos que dois livros por ano. Óbvio que devemos considerar novos fatores, como a própria Internet, que entra em concorrência direta com os antigos livreiros, na maioria das vezes oferecendo preços mais vantajosos ao leitor. Mas o que eu realmente acho uma deprê total é que em poucas décadas a população desse país perdeu o interesse pela leitura, em especial a leitura de ficção, que é aqui o que mais nos interessa. A velha piada do aluno desinteressado que ao invés de pegar o livro na biblioteca prefere esperar o filme sair, em dvd, é claro, nos mostra que Truffaut, Huxley e Godard, entre outros, estavam enganados. No futuro não haverá policiais especiais revistando nossas casas a procura de livros para a grande fogueira do index. Ao que parece, ao menos soa como uma verdade para o que chamamos de Brasil, é que nós, de livre e espontânea vontade jogaremos nossos livros foras ou trocaremos por MP4 ou canais extras na TV a cabo. Claro que a coisa não é tão apocalíptica assim, afinal nunca escrevemos tanto, justamente por termos acesso à tecnologia e um espaço democrático como a Internet. A pergunta é: será que lemos tanto como escrevemos? Será que a leitura, como valor simbólico, não está perdendo espaço para outras formas midiáticas que justamente atingem coletivamente à massa, ao contrário do livro, que insiste, insiste no silêncio do indivíduo? Afinal, não dá pra sentar à mesa do bar com o mesmo ânimo e perguntar: e aí, leram o último livro do Sérgio Sant´Anna e imaginar o mesmo debate acalorado que vem ocorrendo diante do lançamento de Jack Tropa de Elite Bauer. Talvez, seja isso, uma das possíveis múltiplas explicações, para esses números vergonhosos que temos em mão? É claro que dá pra falar do preço do livro, de certos autores contemporâneos que escrevem para si mesmo e seus amigos etc etc. Enfim, sugestões são bem vindas ao debate. Afinal, muitos de nós, professores, editores, escritores, resenhistas, se não tiram o pão de cada dia da literatura, pelo menos mereciam mais do que essas políticas (?) públicas (!!) tem nos oferecido.
Vou esperar respostas...